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Foto do escritorRaphael Luque

PEC do Ajuste Fiscal: As Novas Regras que Redefinem o Abono Salarial (PIS) e o Futuro do Fundeb

A Proposta de Emenda à Constituição recentemente aprovada pela Câmara dos Deputados trouxe alterações de grande repercussão econômica e social, inserindo-se no conjunto de medidas de ajuste fiscal do governo. O destaque inicial está nas novas regras para o abono salarial, tradicionalmente pago a trabalhadores com remuneração de até dois salários mínimos. A proposta limita gradualmente o acesso ao benefício, restringindo-o, até 2027, a quem recebe 1,5 salário mínimo, com valores corrigidos pelo INPC. Essa modificação representa uma tentativa de redução de gastos públicos, estimada em bilhões nos próximos anos, mas carrega a polêmica sobre seu impacto na camada mais vulnerável da população trabalhadora.


Outra frente significativa da PEC foi a prorrogação da Desvinculação de Receitas da União, mecanismo que permite ao governo realocar até 30% dos recursos originalmente vinculados a áreas essenciais, como saúde e educação, para outras finalidades. A extensão da DRU até 2032 reforça a flexibilidade fiscal necessária à administração pública, mas levanta questionamentos sobre possíveis prejuízos ao financiamento de políticas sociais. Trata-se de uma estratégia que exige acompanhamento rigoroso para que a eficiência na alocação de recursos não se transforme em desinvestimento em setores fundamentais.


O texto também propõe mudanças no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, reduzindo o percentual de complementação da União destinado ao ensino integral. A implementação gradual desse novo modelo, que começará em 2026, visa equilibrar o incentivo à ampliação do ensino em tempo integral com a manutenção do financiamento básico, essencial para milhares de escolas públicas. Entretanto, o debate sobre o impacto real dessa medida persiste, especialmente diante das disparidades regionais no acesso à educação de qualidade.


A exclusão de alterações relativas ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) reflete uma decisão estratégica dos parlamentares para evitar maior desgaste político. O benefício, que atende idosos e pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade, seguirá sendo objeto de discussão em projeto de lei separado. Essa segregação permite um debate mais aprofundado, mas também adia a definição de questões sensíveis para milhares de beneficiários, cujo amparo depende de uma legislação robusta e inclusiva.


Outro ponto relevante é a tentativa de coibir os chamados "supersalários" no funcionalismo público. A PEC estabelece limites para parcelas indenizatórias e proíbe pagamentos retroativos que extrapolem o teto constitucional, vinculado ao subsídio dos ministros do Supremo Tribunal Federal. A medida almeja reduzir distorções e promover maior equidade salarial no serviço público, embora seu alcance prático dependa de regulamentações específicas e de esforços contínuos para combater privilégios que comprometem a imagem e a eficiência da máquina estatal.


Essas mudanças compõem um cenário de ajustes que, embora necessários para o equilíbrio fiscal, suscitam debates intensos sobre seus impactos na sociedade. O desafio não reside apenas em conter despesas, mas em assegurar que a contenção não resulte em retrocessos sociais ou econômicos. A sustentabilidade das contas públicas precisa caminhar ao lado da justiça social, especialmente em um país marcado por profundas desigualdades. A votação no Senado será determinante para ajustes no texto, que devem considerar não apenas a necessidade de austeridade, mas também a proteção de direitos fundamentais, como saúde, educação e assistência social. É nesse equilíbrio delicado que repousa o sucesso ou o fracasso das mudanças propostas.



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